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  • Foto do escritorDr. João Lipinsky Nunes

O Sono E A Sociedade: Uma Reflexão No Dia Mundial Do Sono

Hoje, no Dia Mundial do Sono, celebramos o sono e falamos sobre a sua importância, contrastando fortemente com a forma em como vivemos o sono: mostramos quão pouco o respeitamos, quanto o repudiamos, e quanto menorizamos o seu impacto.

 
Rapariga a dormir em cima de gelo rachado.
Fotografia de Egor Vikhrev.

O sono é um processo fisiológico crucial da vida humana que afeta quase todos os aspectos de nossa saúde e bem-estar. Um sono adequado e reparador é essencial para manter uma boa saúde física e mental, e desempenha um papel importante na sociedade como um todo.

Hoje, no Dia Mundial do Sono, celebramos o sono e falamos sobre a sua importância, contrastando fortemente com a forma em como vivemos o sono: mostramos quão pouco o respeitamos, quanto o repudiamos, e quanto menorizamos o seu impacto.

Video de barulho desnecessário às 7h00 da manhã, ironicamente, no Dia Mundial do Sono.


Como exemplo, este dia decorre quando, há 5 dias (12 de Março), os EUA efetuaram a mudança da hora para o horário de Verão, um horário que encurta ainda mais o sono. E nós, países europeus, estaremos perversamente a fazer o mesmo daqui a sensivelmente uma semana. Convém então descrever um pouco o papel do sono nas nossas vidas, e o impacto que tem socialmente, especialmente para melhor percebermos o que significa a sua perda,


O sono é fundamental para manter uma boa saúde física. A privação do sono porém está associada a um aumento do risco de vários problemas de saúde, incluindo doenças cardíacas, diabetes, obesidade e acidente vascular cerebral, para citar alguns. Além disso, o sono é essencial para o sistema imunológico, que ajuda a combater infecções e doenças. Sem sono suficiente, o sistema imunológico pode não funcionar adequadamente, deixando os indivíduos mais suscetíveis a adoecer, e menos aptos a recuperar de doença.


Mas o sono é crucial também para a saúde mental. A falta de sono foi associada a transtornos do humor, como a depressão e ansiedade. A privação do sono também pode prejudicar a função cognitiva, afetando a memória, a concentração e capacidade de tomar decisões. Tal tem um impacto significativo na produtividade no trabalho, no desempenho escolar e na qualidade de vida geral. Além disso, o sono desempenha um papel essencial na regulação emocional, que é fundamental para relacionamentos interpessoais saudáveis e interações sociais.


Sabe-se também que o sono é importante para a segurança pública. Indivíduos privados de sono são mais propensos a acidentes e erros, especialmente em setores de alto risco, como transporte, saúde e construção. Além disso, um sono adequado é essencial para a produtividade económica. Estudos mostraram que a privação do sono custa à economia mundial mais de 2% do PIB anualmente em produtividade perdida, despesas com saúde e acidentes. Indivíduos privados de sono são mais propensos a faltar ao trabalho ou ter um desempenho reduzido..


A Ciência demonstra de forma inquestionável o quão importante é o sono para a nossa sociedade, mas sinceramente não deveriam ser necessários tantos estudos para algo tão óbvio: basta olharmos para nós e para como nos sentimos quando decidimos desrespeitar e encurtar o sono ao usar um relógio despertador, ou ao ser acordados por outrem que o utilizou. A sociedade Portuguesa de Pneumologia em 2019 encontrou no seu inquérito que cerca de metade dos portugueses dorme menos de 6 horas, quando um segundo inquérito em 2017 reportou que cerca de 71% dos portugueses dorme menos de 7 horas, ou seja mais de 2 em cada 3 portugueses. Portanto, é essencial que os indivíduos e a sociedade como um todo priorizem o sono e façam esforços para garantir que todos tenham acesso aos recursos necessários para obter um descanso adequado.


Ironicamente, no dia Mundial do Sono não se vai dormir melhor: os relógios continuam desalinhados; os locais de trabalho continuam com opções limitadas em termos de horários; o teletrabalho, para os sectores laborais que podem, deixou de ser defendido e, em muitos casos, revogado; as escolas continuam com horários únicos e demasiado matutinos para a maioria dos estudantes e dos seus pais. É o mesmo que celebrar o "Dia Mundial sem Tabaco" forçando quase todos os cidadãos, independentemente da idade, a fumar 2 maços de cigarros. Mas se realmente estamos interessados no sono, em viver melhor enquanto sociedade, a primeira coisa que tem de acontecer é você, o leitor, o individuo, dizer alto e bom som "eu quero e preciso de dormir".

 

Sobre o autor:

O Dr. João Lipinsky Nunes é um cientista Bioquímico que escreve sobre o sono e como as estruturas sociais o influenciam, frequentemente de forma negativa. Ele é cofundador da iniciativa BetterTimes.

 

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